Conheça o legado da mulher que é considerada por muitos a maior atriz brasileira de todos os tempos. Feliz aniversário, Fernanda Montenegro!
Nesta quarta-feira (16), Fernanda Montenegro comemora seu aniversário de 90 anos. Um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira, a atriz tem uma história recheada de trabalhos lindos e premiados tanto aqui quanto fora do país – não é à toa que ela é considerada por muitos como “a grande dama do teatro brasileiro”.
E durante esse quase um século de experiência – e mais de sete décadas de carreira artística – Fernanda já contribuiu muito para a cultura nacional e nos proporcionou momentos emocionantes através da sua impecável atuação em diversos filmes, séries e peças teatrais.
Nascida Arlette Pinheiro da Silva em 1929, no subúrbio do Rio de Janeiro, ela adotou o nome artístico Fernanda Montenegro por volta dos 25 anos, quando já trabalhava como locutora na Rádio Ministério da Educação e Cultura. “Fernanda” foi aderido por conta da sonoridade, que ela achava bonita e única, enquanto “Montenegro” veio de um médico conhecido de sua família. Naquela época, ela também estudava secretariado. Ali Fernanda começou a trilhar seus passos na área da comunicação e, mais tarde, chegaria nas artes cênicas.
Sua estreia como atriz foi no Teatro Ginástico, em 1950, com a peça “Alegres Canções nas Montanhas“. Lá a atriz conheceu Fernando Torres, que tornou-se seu marido dois anos depois. Ficaram juntos durante quase 60 anos, até 2008 – ano em que o ator faleceu. Juntos, eles tiveram dois filhos, Fernanda Torres, atriz, e Claudio Torres, diretor.
Fernanda foi a primeira atriz a ser contratada pela TV Tupi para o teleteatro, atuando em peças famosas de autores renomados como Shakespeare e Dostoiévski. Esteve ao lado de Nathalia Timberg, Cacilda Becker e outros nomes populares na época. Naquele momento, o nome da atriz já estava em ascensão e o público começou a tomar conhecimento de seu talento. Ainda nos anos 50, ela e Fernando fizeram as malas e se mudaram para São Paulo.
O próximo passo foi sua participação no chamado “Teatro dos Sete“, uma companhia de teatro fundada por um grupo de cineastas, produtores, atores e colaboradores. Curiosamente, a equipe era formada por apenas cinco pessoas: Fernanda, Fernando, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e Gianni Ratto. A estreia da companhia se deu com “O Mambembe“, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e a peça foi ovacionada durante todo o tempo em que esteve em cartaz. Fernanda contou mais sobre o sucesso dessa peça no Globo Repórter da última sexta-feira (11).
O grupo contou ainda com o repertório de Nelson Rodrigues, que escreveu uma peça com exclusividade a pedido dos Sete. Foi aí que nasceu, em 1961, a peça “O Beijo no Asfalto“, um dos clássicos de maior prestígio da nossa dramaturgia. A história já foi adaptada mais de uma vez para o cinema. Até Viola Davis se interessou pela obra de Nelson e está produzindo adaptações inéditas para as telonas e para a Broadway.
Coincidentemente, a estreia de Fernanda Montenegro como atriz no cinema também seria em uma adaptação da obra de Nelson Rodrigues. Em 1965, a atriz estrelou “A Falecida“, filme que chegou a ser censurado durante a Ditadura Militar, sob a justificativa de que Fernanda tinha “seu peior (sic) papel em representações”.
Nos 16 anos seguintes, a carreira de Fernanda continuaria repleta de trabalhos. Atuou em mais 14 produções de TV e cinema até chegar ao seu primeiro destaque internacional. ‘Eles Não Usam Black-Tie‘, longa de 1981, foi reconhecido em diversos festivais internacionais, inclusive no Festival de Veneza. O filme, que tem Fernanda no elenco principal, ganhou o Leão de Ouro, o maior prêmio do evento.
No mesmo ano, a atriz estreou na TV Globo com a novela ‘Baila Comigo‘, escrita por Manoel Carlos. De lá pra cá, Fernanda participou de mais de 20 novelas da emissora. Alguns de seus papéis fazem parte do repertório mais icônico da teledramaturgia brasileira, como por exemplo a clássica cena da briga do café da manhã de Charlô e Otávio (vivido por Paulo Autran) em ‘Guerra dos Sexos‘ (1983), ou ainda a vilã Bia Falcão do bordão “pobreza pega” em ‘Belíssima‘ (2005).
Outros folhetins que fizeram sucesso valem a pena ser citados são: ‘Cambalacho‘ (1986), ‘Sassaricando‘ (1987), ‘Rainha da Sucata‘ (1990) e ‘Passione‘ (2010), todas elas de Silvio de Abreu; ‘Renascer‘ (1993), de Benedito Ruy Barbosa; ‘Esperança‘ (2002), de Benedito e Walcyr Carrasco e sua participação especial (e mais recente) em ‘A Dona do Pedaço‘, novela das 21h de Walcyr, que é exibida atualmente.
Mas o auge da carreira da atriz veio com o aclamado ‘Central do Brasil‘, de Walter Salles, lançado em 1998. Este é o maior trabalho de Fernanda até hoje. O público e a crítica (nacional e estrangeira) simplesmente amaram o filme e ele logo correu para alguns dos festivais e premiações mais importantes de todo o cinema.