Um trabalho recentemente publicado pela aluna de doutorado Marioxis Katiuska Macías Cuyare, do Programa de Pós-graduação em Oceanografia Biológica da FURG, ganhou grande repercussão internacional ao longo das últimas semanas. Trata-se da descoberta de um tubarão-lixa (Ginglymostoma cirratum) de cor laranja, um raro caso de albino-xantismo. A descoberta foi publicada no periódico científico Marine Biodiversity e ganhou destaque em diversos jornais internacionais como New York Times, Forbes, BBC, NPR, Times of India e também no Brasil em, O Globo, Metrópolis, IG, Correio Braziliense.
Marioxis é originária da Venezuela, bióloga e especialista em tubarões. Veio para o Brasil realizar seus estudos de pós-graduação, onde concluiu o mestrado e agora cursa o doutorado, sob a orientação da professora Maria Cristina Oddone, do Instituto de Ciências Biológicas da FURG.
Em entrevista à Secom, Marioxis conta que a descoberta foi feita na Costa Rica, perto do Parque Nacional Tortuguero, a uma profundidade de 37m e a temperatura da água de 31,2 °C. por pescadores esportivos e envolveu mais dois pesquisadores: o médico veterinário Gilberto Borges, venezuelano, e o biólogo Daniel Araújo, natural da Costa Rica.
Segundo a doutoranda, o veterinário Gilberto Borges recebeu fotos do tubarão-lixa de um grupo de pescadores e diante do fato inédito fez contato com ela, convidando-a à investigar a descoberta. Eles então convidaram um pesquisador local, da Costa Rica, para integrar o trabalho.
“Foi bem impactante ver as fotos, pois estávamos diante de algo inédito, um caso de xantismo nesta espécie, então a gente pesquisou e escreveu o mais rápido possível para publicar. E a notícia tem impacto, pois é a primeira vez que se tem relato de algo assim”, conta a pesquisadora.
O xantismo, caracterizado pela pigmentação amarela, é raro em espécies marinhas e não foi relatado anteriormente em peixes cartilaginosos no Caribe. O tubarão adulto, com aproximadamente 200cm de comprimento total, exibia intensa pigmentação amarelo-alaranjada e olhos brancos, indicando uma condição conhecida como albino-xantocromismo. Esta descoberta única sugere que o xantismo não impede a sobrevivência desta espécie.
“Já se tinha reportado esta anomalia em rãs e em muitos vertebrados terrestres. Muito raramente, se tinha reportado para peixes teleósteos, peixes normais como garoupa, por exemplo,mas nunca tinha sido reportado para tubarões. Essa coloração amarela implica em um tubarão mais vistoso no fundo do mar, o que é raro para a sua sobrevivência”, explica Marioxis.
Segundo a pesquisadora, como trata-se de uma anomalia genética, subentende-se que existam outros animais na mesma condição. “Essa é uma das coisas que a gente fala no artigo; a gente não sabe se isso é um caso isolado, se é um único tubarão ou uma população da espécie”, explica.
O tubarão foi devolvido ao seu habitat natural. Mais pesquisas são necessárias para explorar potenciais fatores genéticos ou ambientais que influenciam essa rara anomalia de pigmentação em tubarões.
Assessoria -- FURG