Cada vida importa: compromisso com a redução da mortalidade materna
Hospitais universitários da Ebserh previnem mortes evitáveis e promovem cuidado integral no pré-natal, parto e puerpério
Publicado em 28/05/2025 19:24
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O Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna comemorado no dia 28 de maio vai além de números e convida à reflexão sobre vidas silenciadas quando novos ciclos deveriam começar. São pessoas que sonhavam com a maternidade, famílias em formação e trajetórias interrompidas. Nesse contexto, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) concretiza, nos 45 hospitais que administra, ações voltadas à qualificação contínua das equipes, ao uso de práticas baseadas em evidências e à ampliação do acesso ao cuidado seguro e humanizado — desde o pré-natal até o pós-parto.

Um desafio nacional e mundial da Saúde

A chefe da Unidade de Saúde da Mulher (UMul) do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), Crislaine Nantes, destacou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) define a morte materna como o óbito de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o parto, por causas relacionadas à gravidez ou ao atendimento recebido. A meta global, estabelecida pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), é reduzir a taxa de mortalidade materna para menos de 70 mortes por 100 mil nascidos vivos até 2030.

“O Ministério da Saúde faz uma distinção entre morte materna obstétrica direta e indireta”, explicou a profissional. As diretas resultam de complicações durante a gestação, o parto ou o puerpério, como intervenções médicas inadequadas, omissões ou falhas no tratamento. Já as indiretas decorrem de doenças pré-existentes ou adquiridas na gestação. “Essas condições são agravadas pelas mudanças fisiológicas esperadas nesse período”, complementou.

No Brasil, as principais causas de morte materna são classificadas como diretas: síndromes hipertensivas, hemorragias, infecções puerperais e complicações decorrentes do aborto. “Essas causas respondem por cerca de 66% das mortes maternas no país e consideradas evitáveis”, afirmou. Conforme os dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2023, cerca de 720 mil mulheres morreram por causas evitáveis relacionadas à gestação e ao parto. “Destas, 94% viviam em países em desenvolvimento. O risco é maior entre mulheres de áreas rurais e comunidades em situação de vulnerabilidade social”, observou Crislaine.

Apesar da redução de 40% na mortalidade materna global entre 2020 e 2023, os números ainda são altos. No Brasil, até maio de 2024, foram registrados 1.184 casos, conforme o painel de monitoramento da mortalidade materna da Plataforma Integrada de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

Principais causas e estratégias de prevenção

“A hemorragia pós-parto e síndromes hipertensivas, como a pré-eclâmpsia, são as principais causas de óbitos maternos”, destacou Jordana Parente, médica e presidente da Comissão Hospitalar de Prevenção ao Óbito Materno, Infantil e Fetal da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC-UFC). “As causas que observamos aqui são as mesmas relatadas em outras partes do Brasil e em países em desenvolvimento”, afirmou.

Essas condições nem sempre se manifestam de forma evidente durante o atendimento clínico. Segundo a médica, muitas pacientes chegam aos serviços de referência em estado grave, muitas vezes sem acompanhamento pré-natal. “São pacientes que desenvolveram hipertensão na gestação e não tiveram o risco identificado ou tratado de forma eficaz”, explicou.

Entre os fatores de risco associados à pré-eclâmpsia, destacam-se: idade materna avançada, primeira gestação após os 35 anos, histórico pessoal de diabetes e hipertensão, além de história familiar de pré-eclâmpsia. A não adoção de medidas preventivas, como a administração de ácido acetilsalicílico (AAS) e a suplementação de cálcio durante a gravidez, também eleva a vulnerabilidade.

Em relação à hemorragia pós-parto, existem fatores de risco identificáveis, como gestação gemelar, histórico de múltiplos partos e fetos com peso superior a quatro quilos. “Contudo, a condição pode ocorrer em qualquer mulher, reforçando a importância da profilaxia imediata com ocitocina e do monitoramento do sangramento na primeira hora pós-parto como medidas essenciais para a preservação da vida”, enfatizou a médica.

Um exemplo positivo é o Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), que não registra mortes maternas por hemorragia pós-parto há quase quatro anos. O resultado é atribuído à Estratégia Zero Morte Materna por Hemorragia (0MMxH), que envolve capacitação das equipes, protocolos clínicos atualizados e uso de equipamentos como traje antichoque e cateter balão.

“Nosso objetivo é garantir a identificação precoce e o manejo imediato da hemorragia, aumentando as chances de sucesso no tratamento e preservando a vida das pacientes”, destacou a chefe da Divisão Médica, Luana Winkler.

Atenção integral e formação profissional

O ginecologista e obstetra Jhonathan Alcides Elpo, do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), também apontou as síndromes hipertensivas, as hemorragias e o abortamento como principais causas de morte materna. Segundo ele, o abortamento clandestino ainda é uma realidade no país, exigindo medidas educativas e preventivas. “É fundamental orientar sobre métodos contraceptivos nas consultas de rotina e promover o debate sobre o acesso seguro e legal ao abortamento”, afirmou.

Sobre as síndromes hipertensivas, o médico reforçou que a pressão arterial deve ser monitorada em todas as consultas. “O manejo adequado exige o uso de medicamentos, realização de exames de imagem com frequência e avaliação individualizada do momento ideal para o parto”, explicou. Além disso, medidas simples como a retirada ativa da placenta e a administração de ocitocina logo após o parto estão entre as principais recomendações da OMS para reduzir o risco de hemorragia.

Fortalecendo o cuidado obstétrico e neonatal na Rede Ebserh

A Meac, o HU-UFSC e o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) integram o grupo de 25 hospitais universitários da Rede Ebserh que participam do Projeto de Fortalecimento do Cuidado Obstétrico e Neonatal. A iniciativa é desenvolvida em parceria com o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e busca qualificar os hospitais como referências no cuidado obstétrico e neonatal, com base nos “10 Passos para Redução da Mortalidade Infantil” e “10 Passos do QualiNeo”.

Além disso, a chefe da UMul do HC-UFMG, Kelly de Almeida Borgonove, destacou o papel dos Comitês de Prevenção da Mortalidade Materna, Infantil e Fetal na investigação das causas de morte. “Esses comitês buscam não culpabilizar, mas identificar falhas sistêmicas e propor melhorias por meio da análise de casos e da recomendação de mudanças em práticas assistenciais, fluxos e protocolos”, afirmou.

Segundo a profissional, a retomada das ações dos comitês após o período crítico da pandemia tem promovido maior integração entre os setores assistenciais e a rede de atenção à saúde da mulher e da criança. Entre as ações desenvolvidas no hospital estão a adoção da Lista de Verificação da OMS para Partos Seguros, o fortalecimento da vigilância ativa de óbitos e a integração entre comissões internas, como o Núcleo de Segurança do Paciente e a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar.

Kelly também ressaltou que o Projeto de Fortalecimento do Cuidado Obstétrico e Neonatal convoca os hospitais a olhar para seus indicadores, processos assistenciais e de gestão. “Ao olhar para esses indicadores e processos teremos a oportunidade de, em conjunto, fazermos uma revisão de nossas práticas e o que temos oferecido à população. Alguns desafios já estão colocados, entre eles a revisão do nosso modelo assistencial e a interprofissionalidade. Neste sentido, buscar um cuidado e uma formação de excelência, como postulado em nossa Visão, Propósito e Valores. O projeto nos convoca a colocá-los em prática, tanto no cuidado quanto na formação”.

Ela concluiu reforçando que a redução da mortalidade materna não é somente uma meta sanitária. “É um compromisso ético, social e institucional com os direitos das mulheres. Cada vida perdida é uma falha coletiva, mas também uma oportunidade de transformação”.

ASSESSORIA EBSERH FURG

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