HIV/Aids: estamos mais próximos da cura?
Variadas
Publicado em 07/01/2025

Nesta reportagem, você vai ver:

Da terapia diária à possibilidade de tratamentos mais espaçados

Cura: por enquanto, apenas casos isolados

SUS, uma referência internacional no tratamento do HIV/Aids

Prevenção e tratamento dependem de boa informação para avançar

E daqui pra frente?

Nos últimos 40 anos, a evolução dos tratamentos e a adesão ao cuidado na luta contra o HIV/Aids transformaram a perspectiva da doença, de uma sentença de morte para uma condição crônica controlável, especialmente com o uso da Terapia Antirretroviral (Tarv). Mas a ciência e as instituições de saúde ainda enfrentam desafios para erradicar o vírus ou encontrar uma cura acessível e em larga escala para a população. As pesquisas e as perspectivas relacionadas ao HIV são o tema desta quinta e última reportagem da série especial “Convivendo com o HIV/Aids”, produzida pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Os hospitais universitários vinculados à Ebserh despontam como referência no avanço das pesquisas e na implementação de tratamentos inovadores. Contudo, ainda há grande preocupação com a falta de conscientização sobre a doença, especialmente entre os mais jovens, o que prejudica a eficácia das políticas públicas de prevenção.

Da terapia diária à possibilidade de tratamentos mais espaçados

A farmacêutica Luisa Mota, do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), destaca que as pesquisas sobre HIV/Aids se concentram em tratamentos mais eficazes e com intervalos de administração mais espaçados. "A terapia antirretroviral continua sendo o principal método de controle da infecção, mas as inovações buscam tratamentos de longa duração, como injeções de liberação lenta que podem ser administradas a cada dois meses ou até duas vezes por ano", afirma.

Esse avanço, segundo a especialista, poderá melhorar substancialmente a adesão dos pacientes ao tratamento, uma preocupação constante. A dependência de medicamentos diários pode afetar a continuidade do controle da carga viral. "A simplificação do protocolo será um ganho enorme", projeta ela.

A luta também se volta para o desenvolvimento de vacinas, tanto preventivas -  para evitar a infecção -, quanto terapêuticas - para tratar a infecção já instalada. Uma pesquisa em andamento para desenvolver uma vacina terapêutica, em uma parceria entre o HU-Furg e o Instituto Nacional do Câncer (Inca), já apresenta resultados iniciais promissores. "As pesquisas estão em fase inicial e a variabilidade do HIV ainda representa um grande desafio. As perspectivas são otimistas e acredito que a ciência está cada vez mais próxima de soluções que podem mudar o panorama global da pandemia", aposta a farmacêutica.

Cura: por enquanto, apenas casos isolados

A infectologista Mônica Gomes, do Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR), explica que os casos de remissão duradoura ou eliminação funcional do vírus, até agora, foram alcançados por meio de tratamentos muito específicos, como o transplante de medula óssea. "Esses procedimentos, embora bem-sucedidos, não são viáveis em larga escala devido à sua complexidade, especificidade e custo elevado", ressalta.

A profissional, que também é professora de Infectologia da UFPR, destaca a estratégia de ‘testar e tratar’, implementada no Brasil, como uma das principais formas de controle da epidemia. “O modelo universal de tratamento, que recomenda a terapia antirretroviral a todos os pacientes com diagnóstico de HIV no país, é considerado uma das grandes forças do Sistema Único de Saúde, o SUS, permitindo uma redução significativa na transmissão do vírus”, garante a médica.

Além disso, Mônica reforça a importância de pesquisas como a realizada com o lenacapavir, uma medicação que demonstrou, em um estudo realizado na África, eficácia de até 100% na prevenção da infecção quando administrada a cada seis meses. "Essa forma de prevenção, chamada de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), é considerada uma das grandes esperanças para populações-chave e prioritárias, como homens que fazem sexo com outros homens e mulheres trans", pontua Gomes.

SUS, uma referência internacional no tratamento do HIV/Aids

Para o professor e pesquisador Rogerio Motta, responsável pelo Serviço de HIV/Aids e pela Unidade de Clínica Médica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), o Brasil continua sendo uma referência no cuidado a pessoas vivendo com HIV, principalmente pela estruturação do SUS e suas políticas públicas de saúde. A unidade, que há décadas atende a pessoas com HIV, é um exemplo de como a assistência, aliada à pesquisa, tem proporcionado avanços no tratamento. "O protocolo evoluiu muito. Atualmente, nosso principal objetivo é tornar o HIV indetectável no sangue do paciente o mais rapidamente possível", detalha o docente.

O HUGG-Unirio, que atende a mais de 3 mil pacientes atualmente, também está engajado no ensino e na pesquisa. O hospital, gerenciado pela Ebserh, oferece o único Mestrado Profissional em HIV e Hepatites Virais no Brasil, que forma profissionais especializados para lidar com as especificidades do vírus, desde a infância até o envelhecimento da população vivendo com a infecção.

Motta também destaca que, apesar dos avanços no tratamento, o maior desafio é combater os determinantes sociais da saúde, que ainda são um obstáculo significativo no dia a dia dos pacientes. "O HIV não afeta todos de forma igual. Fatores como raça, classe social e acesso a serviços de saúde ainda determinam a qualidade do atendimento e a adesão ao tratamento", enfatiza.

            Com a criação, em 2023, do Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (Cieds), o Brasil deu um passo importante para tratar doenças como o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) de maneira mais ampla, considerando as desigualdades sociais que perpetuam a transmissão dessas doenças.

Prevenção e tratamento dependem de boa informação para avançar

A farmacêutica Luisa Mota observa que, enquanto nas décadas de 1980 e 1990 o HIV era amplamente debatido, hoje a informação sobre a doença é considerada pouco atrativa. "Parece haver uma despreocupação das pessoas com a prevenção, especialmente entre os mais jovens, que muitas vezes não percebem as consequências de não usar os métodos de prevenção", alerta.

O estigma da doença também persiste. "O medo de não ser aceito, de ser excluído, é uma barreira invisível, mas ainda muito presente na rotina das pessoas vivendo com HIV", complementa a infectologista Mônica Gomes.

E daqui pra frente?

O futuro do combate ao HIV/Aids passa pelo avanço nas pesquisas e pela ampliação das estratégias de prevenção e tratamento. “Com terapias mais eficazes e opções de tratamentos menos invasivos, como as injeções semestrais, e com novas opções de prevenção, como o lenacapavir, o mundo está mais próximo de controlar a infecção e até mesmo eliminar a transmissão do HIV”, analisa o infectologista Rogerio Motta. Esse é o caminho para mais uma contribuição do Brasil no alcance da meta da Organização das Nações Unidas de acabar com a Aids como problema de saúde pública até 2030.

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ASSESSORIA EBSERH FURG

 

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