Setembro Amarelo: ações sobre saúde mental na FURG
26/09/2021 10:26 em Variadas

Organizado nacionalmente desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o mês alusivo à prevenção do suicídio, denominado como Setembro Amarelo, representa um momento para o debate intenso de questões sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. Na FURG, diversas ações orientadas para o tema são desenvolvidas ao longo do ano, em fluxo contínuo; outras acontecem em uma programação exclusiva para o período. Conheça aqui as atividades da universidade voltadas para a temática.

Contextualização e importância do debate

De acordo com dados divulgados pelo site da ABP, são registrados cerca de 13 mil suicídios todos os anos no país; o número chega na casa do milhão quando levado para o âmbito mundial. Ainda segundo o portal, cerca de 96,8% dos casos de suicídio registrados derivam de transtornos mentais, sendo em primeiro lugar a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.

O cenário em conjunto com os números impactantes promove o alerta necessário para que o tema seja cada vez mais amplamente debatido. E nas universidades não seria diferente, uma vez que o contexto acadêmico é muitas vezes associado e cercado por questões relacionadas a saúde mental.

De acordo com Lauro Demenech, psicólogo clínico do Centro de Atendimento Psicológico (CAP) da FURG e um dos autores do artigo “Prevalence of anxiety, depression and suicidal behaviors among Brazilian undergraduate students: a systematic review and meta-analysis”, recentemente publicado em um dos principais jornais acadêmicos sobre transtornos mentais do mundo; o contexto universitário tem uma série de características que o tornam um ambiente facilitador do desenvolvimento de transtornos mentais. “Nesse contexto estão presentes fatores como a pressão por resultados, prazos apertados, cobranças e competitividade, os quais resultam em impactos indiretos como a privação de sono e dificuldades no relacionamento com pares, transforma o cotidiano universitário em um compilado de fatores estressores”, aponta o especialista.

No estudo, Lauro e outros pesquisadores do Centro de Estudos Sobre Risco e Saúde e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, se debruçam sobre uma série de artigos publicados sobre depressão, ansiedade e comportamento suicida com amostras de estudantes universitários brasileiros. A pesquisa, por fim, identifica prevalência elevada de sofrimento psicológico clinicamente relevante, representando 37,8% para ansiedade, 28,5% para depressão e 9,1% para comportamento suicida. Durante a conclusão, o fortalecimento dos dispositivos de prevenção é indicado como a melhor alternativa para amenizar as consequências deste cenário.

No contexto da FURG, Lauro compara a capacidade institucional de acolher, tratar e encaminhar estes casos com um funil. “Nós temos uma capacidade limitada quando comparada com o volume de demanda. Por extravasar a nossa capacidade, até em função de fatores externos que fogem do nosso controle e impulsionam o desenvolvimento desses sofrimentos psicológicos, se torna imprescindível capacitar e aprimorar cada vez mais os mecanismos e ferramentas que a universidade possui para tratar essas questões”, aponta o psicólogo.

Abordagem institucional

Dessa forma, são objetivos da gestão, tornar cada vez mais, o ambiente universitário diverso e acolhedor. E uma das formas de colocar isso em prática, foi a recente criação da Coordenação de Ações Afirmativas, Inclusão e Diversidade (Caid) e suas comissões, dentre elas, a Comissão de Saúde Mental, composta por representantes da Prae, CAP, Faculdade de Medicina (Famed), além de contar, também, com uma representante da comunidade estudantil. De acordo com Elisa Celmer, coordenadora da Caid – e também presidente da comissão -, ainda está sendo pleiteada uma representação docente do curso de graduação em Psicologia.

“A intenção é que possamos pensar, de modo mais integral e articulado, o bem-estar emocional das pessoas que integram a comunidade acadêmica. Neste sentido, esperamos construir diretrizes para a promoção da saúde mental, com orientações para a prevenção do sofrimento e adoecimento psíquico de docentes, discentes, TAEs e trabalhadores terceirizados, bem como estimular a comunicação eficaz entre a comunidade universitária sobre as possibilidades de atendimentos que a FURG e as redes dos municípios oferecem. Com iniciativas como essas, esperamos colaborar para que todos os setores da universidade compreendam a importância do cuidado com a saúde mental das pessoas”, enfatiza a coordenadora.

Para o reitor Danilo Giroldo, aprimorar as ações de cuidado com a saúde mental da comunidade universitária é um compromisso para a gestão. Nesse sentido, a universidade tem se dedicado a formalizar e qualificar os espaços de formação, escuta e atendimento a servidores e estudantes. “A pandemia foi responsável por um aumento expressivo na busca por atendimento psicológico e provocou inúmeras reflexões nos profissionais da área acerca das condições da universidade para atender a demanda de maneira mais qualificada”, esclarece o gestor.

Para Giroldo, esse processo de reflexão tem sido fundamental para repensar continuamente os procedimentos e ações institucionais voltadas para o tema da saúde mental, buscando estabelecer um canal de atendimento cada vez mais humanizado.  “A comissão temática de saúde mental, ligada à Caid, é uma dessas inciativas para que, em um futuro próximo, possamos ter uma política estruturada relacionada à saúde mental da nossa comunidade universitária”, completa o reitor.

Quais são esses mecanismos e como acessá-los?

“As atividades mais eficientes são aquelas relacionadas à prevenção e que acabam evitando consequências decorrentes de sofrimentos psicológicos”, explica Lauro. Na FURG, existe uma série de mecanismos e ações, baseados tanto na assistência estudantil quanto na gestão de pessoas, visando atuar de forma preventiva na comunidade institucional, composta tanto por estudantes quanto por trabalhadores da universidade.

Para servidores

Na Progep - voltado para técnicos-administrativos em educação e docentes -, existe o Acolhimento Psicossocial, projeto desenvolvido por meio da Diretoria de Atenção à Saúde (DAS). A ação consiste em um espaço de escuta qualificada, de forma que possam ser pensadas estratégias e encaminhamentos necessários para auxiliar na resolução de um determinado problema ligado ao sofrimento psicológico, dentro das capacidades do grupo. Interessados poderão solicitar atendimento clicando aqui; ou, ainda, realizando contato via e-mail no endereço: progep.psicossocial@furg.br.

De acordo com Gabrielle de Oliveira, coordenadora de psicologia organizacional e serviço social, especificamente em setembro, a pró-reitoria teve a intenção de fortalecer seus canais de escuta junto aos servidores. “Entendemos que ampliar a informação sobre a existência destes espaços de acolhimento é essencial para a prevenção de agravamentos das questões psicológicas”, explicou.

No começo da pandemia, em 2020, a equipe psicossocial da pró-reitoria realizou uma pesquisa com todos os servidores da universidade para mapear demandas que pudessem se originar do novo contexto vivido. A partir dos resultados, a equipe passou a pensar transmissões ao vivo destinadas à discussão de assuntos relacionados à saúde mental, principalmente tratando dos aspectos psicológicos decorrentes do isolamento, da pandemia e do trabalho remoto.

Outra ação voltada para os servidores iniciada em 2021 é o projeto ‘Rodas de conversa em Saúde Mental’. De acordo com as psicólogas Clarissa Ferigollo e Irena de Sá, da Diretoria de Desenvolvimento de Pessoas (DDP), foi percebida a necessidade de um espaço em que os servidores pudessem trocar experiências com demais colegas, com mediação de profissionais da equipe.

Ainda em 2021, a Progep realizou outra ação em saúde mental para servidores da FURG, voltada ao acolhimento do luto, especificamente para assistentes sociais e psicólogos. “O fortalecimento dessas redes de acolhimento é o caminho possível para espicharmos o olhar sobre as questões de adoecimento mental, quebrarmos as barreiras com os tabus e as construções equivocadas sobre sofrimento psicológico”, destacou Gabrielle.

Para estudantes

Na Prae, por meio da Coordenação de Bem Viver Universitário (CBVU), a Psicologia Educacional tem por foco ações voltadas ao tema do bom convívio estudantil, desenvolvendo preferencialmente projetos e ações coletivas com temáticas que trabalham diversos aspectos da permanência e qualidade de vida dos estudantes. Assim, a iniciativa trabalha em ordem de diminuir a ansiedade e o estresse da rotina acadêmica, fomentando um melhor aproveitamento das oportunidades e aprendizados proporcionados pela universidade por meio da educação afetiva e inclusiva.

Parte da atuação do setor é desenvolvida em parceria com assistentes sociais, pedagogas e técnicas em assuntos educacionais da pró-reitoria. O público para o qual essas ações são desenvolvidas engloba, majoritariamente, beneficiários da assistência estudantil. No entanto, são também desenvolvidas atividades de formação e capacitação com docentes e técnicos da instituição, para a promoção de um convívio mais saudável entre os atores que compõe a universidade, como professores, por exemplo.

Estão disponíveis para esse formato as modalidades: atendimento psicológico individual, atendimento em grupo, atendimento de urgência e plantão psicológico quando em período presencial.

O trabalho desenvolvido pela CBVU atende moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU); estudantes atendidos pelo Subprograma de Assistência Básica (SAB); encaminhamentos de urgência; e demais estudantes, respectivamente nessa ordem de prioridade.

Para acessar os serviços durante o período de quarentena e isolamento social, é necessário solicitar o atendimento online, disponível ao contatar o endereço de e-mail: psicocbvu@furg.br ou pelo fone: (53) 3237.3034 / (53) 3237.3035. A ação, em caráter contínuo, foi reformulada para o ambiente virtual no sentido de proporcionar suporte e orientação aos estudantes em relação a aspectos emocionais ligados ao ambiente acadêmico, ainda mais motivado pelo crescente número de casos ligados à saúde mental no contexto pandêmico, como investigava estudo da FURG em 2020.

De acordo com Lauro, dentro do contexto pandêmico, a grande maioria dos indicadores referentes ao sofrimento psicológico aumentaram desde então. Levando essa questão em consideração, para o psicólogo, é preciso focar ainda mais na prevenção e no debate sobre o tema, intensificando a conversa sobre transtornos mentais e instruindo a comunidade acadêmica sobre os dispositivos de ajuda disponíveis.

Atendimento Psiquiátrico para moradores da CEU

Com o objetivo de proporcionar atendimento psiquiátrico aos estudantes residentes na universidade, como forma de qualificar e ampliar o suporte à saúde mental da comunidade acadêmica e, também, garantindo sua permanência e adaptação ao ambiente universitário e à moradia estudantil, a ação conta com a parceria da Faculdade de Medicina (Famed). Para solicitar atendimento nesta modalidade, é necessário entrar em contato pelo e-mail: psiquiatria.prae@gmail.com.

E nos demais espaços da FURG?

O grupo do Programa de Educação Tutorial (PET) do curso de Enfermagem, desenvolveu, na última quinta-feira, 16, um curso com a temática “Depressão: o mal do século XXI e os desafios para a promoção da Saúde Mental”, em caráter online, para debater o tema entre os estudantes da área. Segundo a tutora Giovana Calcagno Gomes, desde 2020, o programa vem discutindo sobre o tema, realizando atividades voltadas para pensar formas de melhorar a saúde mental no ambiente acadêmico.

O Curso de Psicologia, por sua vez, desenvolveu um projeto voltado para mitigar os impactos da ansiedade no contexto acadêmico. Denominado como Grupo para Redução da Ansiedade entre Universitários (Grau), este é um mecanismo composto por um grupo de graduação que, desde 2018, estimula ações de conscientização a respeito de um dos transtornos mentais mais associados ao contexto universitário. Com a pandemia, as ações do grupo passaram ser oferecidas em caráter remoto.

Realizada de forma virtual e criado em 2020, o Projeto Cuidar, é outra iniciativa do curso voltada para o tema do sofrimento psicológico. A ação consiste em um atendimento psicoterápico voluntário e foi concebida pensando no contexto pandêmico. 

No Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr (HU-FURG/Ebserh), de acordo com o psicólogo Frederico Gomes, da Divisão de Gestão de Pessoas, a saúde mental do trabalhador faz parte de uma série de ações em fluxo contínuo voltadas para a prevenção, promoção e apoio emocional aos colaboradores. “Desde abril de 2020, a unidade psicossocial e o serviço de capacitação e desenvolvimento de pessoas (Sadep) têm realizado grupos focais com os trabalhadores do HU, atendimento de escuta qualificada, psicoterapia e atendimento psiquiátrico”, relatou o servidor.

Em 2021, continuou-se com as atividades, e no dia 9 de setembro, foi realizada a primeira atividade do projeto ‘Conta pra Gente’, que consistiu em uma mesa redonda com a participação de um psiquiatra e uma assistente social para debater o tema do suicídio, em caráter online e gratuito. Outros três encontros virtuais estão previstos para a iniciativa abordando temas diversos da área da saúde.

No Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic), a Unidade Básica de Saúde da Família Dr. Romeu Selistre Sobrinho, que atua junto ao centro, desenvolveu um vídeo institucional e de conscientização sobre a importância do debate, veiculando em suas redes sociais – disponível aqui. No material, enfermeiros residentes promovem reflexões a respeito do Setembro Amarelo, chamando atenção para pequenas ações cotidianas que podem fazer a diferença em situações de sofrimento psicológico.

Assessoria de Comunicação - FURG

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