“Cursar uma graduação, ter um trabalho e poder frequentar qualquer lugar é direito de todos”: entrevista com Ivandro Heckler
23/09/2021 16:28 em Variadas

No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, a Secretaria de Comunicação (Secom) conversa com Ivandro Rafael Heckler, engenheiro civil egresso da FURG, que hoje vive na capital paulista. Durante sua trajetória na graduação, Ivandro, que é cadeirante em decorrência de um acidente de moto, foi bolsista do Núcleo de Estudos e Ações Inclusivas (Neai) da FURG e participou da implantação do Laboratório de Acessibilidade e Mobilidade Urbana (Lamu), destinado especificamente ao desenvolvimento de projetos de acessibilidade arquitetônica e mobilidade urbana.

Além do Neai, a FURG tem outro setor de referência para a acessibilidade e permanência de estudantes com deficiência na instituição, que é o Programa de Apoio aos Estudantes com Necessidades Específicas (Paene). Desde o início deste ano, a universidade conta também com uma Coordenação de Ações afirmativas, Inclusão de Diversidades (Caid), que tem entre seus objetivos ampliar as ações de acessibilidade e visibilidade das pessoas com deficiência e atuar em conjunto com os programas existentes para promover a formação continuada em ações afirmativas para toda a comunidade universitária. A FURG também tem políticas para fomentar o ingresso de pessoas com deficiência. Com o Programa de Ações Afirmativas (Proaaf), a universidade reserva 5% de suas vagas de graduação para pessoas com deficiência.

 

Para Ivandro, a vivência na FURG foi muito atravessada pela temática, não apenas por ser uma pessoa com deficiência (PCD), mas por ter direcionado tempo, estudos e energia para pensar a questão da acessibilidade na universidade, com sua participação no Neai. Para ele, o período que viveu na FURG demonstra que a universidade hoje está mais preparada para receber PCDs, não só no sentido físico, arquitetônico, mas também por conta das políticas de acessibilidade e inclusão. E defende que poder cursar uma graduação, ter trabalho e poder frequentar qualquer lugar é direito de todas as pessoas. Acompanhe a conversa a seguir.

Conta para a gente um pouco mais de ti e como foi tua trajetória na FURG.

Meu nome é Ivandro Rafael Heckler, tenho 31 anos e sou natural de Campina das Missões, uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul. Sou egresso da Universidade Federal do Rio Grande, onde recentemente (2020), me formei em Engenharia Civil. Atualmente estou trabalhando como Analista de Riscos e Controles Internos em um banco de São Paulo (SP).

Lembro dos professores falando em sala de aula, que um engenheiro é formado para resolver problemas. Na época isso não fazia tanto sentido e imaginava que deveria atuar especificamente na minha área de formação, mas hoje, atuando no mundo corporativo e não no mercado da construção civil, vejo que de fato obtive uma formação muito ampla e qualificada, podendo atuar nas mais diversas áreas do mercado de trabalho.

Hoje falo com orgulho que sou formado pela FURG, uma ótima universidade, que forma não somente profissionais com um bom diploma, mas profissionais que entram no mercado de trabalho, independente da área de formação e área de atuação, mas que podem fazer a diferença na sociedade.

E como foi a experiência no Neai?

Durante a minha graduação estive sempre muito ativo e inquieto, buscando algo a mais, uma experiência externa da sala de aula, participando de projetos, comissões, estudos, etc. Logo no início da minha graduação tive a oportunidade de poder ingressar no Neai, onde tive minha primeira experiência extracurricular e já no ano seguinte fui um dos responsáveis pela implementação de um laboratório (Lamu) dentro do Neai, laboratório este, destinado especificamente à análise e desenvolvimento de projetos de acessibilidade arquitetônica e mobilidade urbana.

Junto com outros colegas trabalhei com esses projetos até o final da minha graduação e com certeza foi uma experiência muito significativa, a qual com certeza eu não teria conquistado ficando somente em sala de aula. Tive a oportunidade de participar de eventos e congressos em outros estados, apresentar palestras, workshops, oficinas, todos relacionados com o tema de acessibilidade e inclusão e isso são experiências que tiveram muito peso na minha formação.

Como avalia que a universidade tem acolhido as pessoas com deficiência?

Quando eu ingressei na FURG as questões de acessibilidade e inclusão já vinham sendo abordadas, então eu sempre tive todo apoio necessário, me sentia muito acolhido e amparado. No início esse tema ainda era tratado meio superficialmente, mas isso foi mudando e teve mudanças significativas com o passar dos anos.

Na época a universidade passava por muitas mudanças se tratando de ampliação de infraestrutura do campus, novos prédios, pavimentações e tudo mais, então eu acredito que o trabalho que a gente fazia no Neai e no Lamu pode contribuir em muitos aspectos. Hoje com certeza isso traz melhorias para outras pessoas que dependem desses fatores. Por isso, acredito que a universidade hoje esteja muito mais preparada para receber as pessoas com deficiência, desde o aspecto arquitetônico, como também em políticas internas de inclusão e acessibilidade.

Quais são as principais questões que tu achas que são fundamentais para a acessibilidade não só na universidade, mas na sociedade como um todo?

Acho que o primeiro passo é a conscientização e sensibilização. As pessoas precisam perceber que essas políticas devem existir não somente por que há uma lei que exige isso, mas sim por que isso pode fortalecer a sociedade. Ter a oportunidade de poder cursar uma graduação, ter um trabalho e poder frequentar qualquer lugar, é direito de todos. Se houvesse uma maior conscientização por parte da sociedade como um todo, talvez nem precisasse existir uma política de inclusão, pois seria algo natural, como deve ser.

Assessoria FURG

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